Magalhães para todos os alunos do 1.º e 2.º ano no próximo ano lectivo, assegura ministra
25.05.2010 - 14:49
Os computadores Magalhães vão ser distribuídos a todos os alunos do primeiro e do segundo ano de escolaridade no início do próximo ano lectivo, garantiu hoje em Faro, Algarve, a ministra da Educação, Isabel Alçada, durante uma vista à Emergência Infantil do Refúgio Aboim Ascensão.
"Vamos eventualmente distribuir ainda alguns computadores Magalhães neste ano lectivo, mas certamente no princípio do próximo ano lectivo todos os meninos do primeiro ano de escolaridade e todos os meninos do segundo ano de escolaridade vão ter o seu Magalhães", garantiu hoje Isabel Alçada.
À margem da visita que fez ao Refúgio Aboim Ascensão, instituição que desde 1985 ajuda crianças do zero aos cinco anos a regressarem à família biológica ou a conseguirem ser adoptadas, a ministra admitiu que o processo de entrega dos computadores Magalhães se atrasou por causa dos concursos públicos exigirem "uma tramitação bastante morosa".
Isabel Alçada acrescentou que as medidas de austeridade que estão a ser aplicadas pelo Governo vão obrigar a uma gestão que corresponda "a necessidades, sem supérfluo, mas sempre na ideia de que educar é uma prioridade nacional", e garantiu que a implementação dos 12 anos de escolaridade obrigatória não vai ser afectada.
"Nós vamos continuar com a implementação dos 12 anos de escolaridade para todos com a diversificação do ensino secundário, com as vias profissionais, tudo isso exige investimento e o Governo já anunciou que isso é uma linha que vai manter", asseverou a ministra.
Isabel Alçada acrescentou que é objectivo integrar mais o trabalho para que as equipas de docentes trabalhem com equipas de discentes e que possam acompanhar os alunos desde o primeiro ciclo até ao secundário com um trabalho efectivo.
A ministra da Educação participou hoje num "Encontro de Bibliotecas Escolares" em Tavira, visitou o Refúgio Aboim Ascenção em Faro e à tarde assiste ao lançamento da primeira pedra da Escola Básica da Fonte Santa, em Quarteira, uma obra com oito salas de 1.º Ciclo e três salas para o pré-escolar, cujo investimento é de 4,5 milhões de euros da Câmara Municipal de Loulé.
"Se não houver 'Magalhães' em Setembro é desastroso"
por PEDRO SOUSA TAVARES
Ministra admite que só no próximo ano haverá portáteis. Pais não querem mais atrasos.
A ministra da Educação admitiu ontem que os novos Magalhães já não vão chegar este ano lectivo aos alunos. Isabel Alçada adiantou que os novos computadores (MG2) só chegarão aos alunos depois do Verão, deixando em aberto a hipótese de "eventualmente" ainda se fazerem "algumas" entregas em Junho.
A Confederação Nacional das Associações de pais (Confap) considera que, depois dos vários atrasos no processo - relacionados sobretudo com adiamentos de datas do concurso público internacional - não há mais margem de erro, avisando que será "desastroso" se os computadores não chegarem aos alunos até ao início das aulas.
"Será desastroso, face à oferta que o País está a fazer nas novas tecnologias, que no início do novo ano lectivo todos os alunos não tenham o Magalhães", disse ao DN Albino Almeida, presidente da Confap, que ainda há dias disse ao DN ter recebido indicações do secretário de Estado da Educação, João da Mata, de que havia condições para arrancar com a entrega dos portáteis na primeira quinzena do próximo mês.
Entregar todos os portáteis até ao regresso às aulas é agora o novo compromisso do Governo: "Certamente no princípio do próximo ano lectivo todos os meninos do primeiro ano de escolaridade e todos os meninos do segundo ano de escolaridade vão ter o seu 'Magalhães", assegurou ontem aos jornalistas Isabel Alçada.
Por outras palavras, o Governo pretende juntar apenas num ano - aliás, em cerca de três meses e meio - as entregas de 250 mil portáteis que estavam previstas para dois anos lectivos. Aos do 1.º ano alunos que se inscreveram este ano lectivo, e aos que se inscreverem no próximo, além dos respectivos professores.
O certo é que, depois de o Ministério ter apontado a Páscoa como meta, e posteriormente ter prometido tudo fazer para que as entregas se concretizassem ainda este ano lectivo, há quem já não tenha grandes esperanças de que isso se concretize.
"Atendendo à forma como as coisas decorreram na 1.ª fase do programa e-escolinhas [em 2008/09], com muitas entregas quase só no final desse ano lectivo, não será fácil", disse ao DN Maria José Viseu, da Confederação Nacional Independente de Pais e Educadores (CNIPE).
P ara esta dirigente, o mais importante é, no entanto, "que quando chegarem , os 'Magalhães' sejam aproveitados verdadeiramente como ferramenta educativa, tirando partido dos recursos existentes, e que seja distribuídos ao mesmo tempo" a todos.
Numa resposta enviada ao DN, a J.P. Sá Couto, fabricante do portátil, prometeu que tudo fará "para entregar computadores ainda este ano lectivo", garantindo ter "capacidade logística" para o realizar.
Magalhães pouco usado em muitas escolas
Utilização é limitada a algumas horas semanais em várias unidades
27-05-2010
TIAGO RODRIGUES ALVES *
Prestes a finalizar-se o primeiro ano lectivo do Magalhães em pleno, uma ronda por escolas do país demonstra que a sua utilização ainda é muito errática. Se algumas o utilizam com frequência, outras já o puseram praticamente de lado. Os motivos variam.
Fonte do Sindicato de Professores da Grande Lisboa afirma que o Magalhães é usado "raríssimamente", porque "há os alunos que não têm, os que avariam, são vendidos ou roubados". Na escola Fernando Pessoa, na capital, o computador azul é presença regular nas aulas de apoio ao estudo, mas a sua utilização depende de cada professor. Já em Sintra, na Escola de S. Pedro, só se usa nas aulas de informática, duas vezes por semana. Nem todos têm computador e a rede wireless nem sempre está disponível.
O Sindicato dos Professores do Norte (SPN) diz que na região o Magalhães tem utilização limitada. "Se for uma vez por semana já é muito". No Agrupamento de Matosinhos só há um quadro interactivo para 60 professores. Assim, "é muito difícil e não há aproveitamento pedagógico, provoca indisciplina e balbúrdia", explica Maria José Silva, do SPN.
Na Escola Carlos Alberto, no Porto, o Magalhães é usado uma vez por semana, apesar das limitações - em algumas salas a Internet não funciona e há muitos Magalhães avariados. Já na Escola da Praia, em Vila Nova de Gaia, o computador está presente conforme os conteúdos a abordar, mas é utilizado com muita frequência, até porque está tecnologicamente bem equipada.
O único balanço oficial do sistema é o do Governo Regional dos Açores, que optou por abandonar o Magalhães e adquirir outros modelos, que ficarão à guarda das escolas. A decisão baseou-se num inquérito que revelou que o sistema não funciona. Lina Mendes, secretária regional de Educação, afirmou que "alguns alunos não levavam o computador para a escola e houve encarregados de educação que não aderiram à iniciativa".
Em Braga, o representante da Federação de Pais, José Pacheco, destacou as dificuldades com o wireless. "Estamos em conversações com a Câmara para resolver esse problema. Como envolve um grande montante, terá de ser faseado".
No Centro, o Magalhães parece estar a ser utilizado regularmente e sem problemas. Entre os agrupamentos de escolas contactados pelo JN, só o de Ceira, em Coimbra, apontou constrangimentos. Três, mais concretamente: os problemas de ligação à Internet, a falta de habilitação de alguns professores e as avarias frequentes. Já o Agrupamento de Taveiro, também em Coimbra, defende a afectação dos computadores às escolas, pela voz de Eduarda Carvalho, membro da direcção. Até para evitar que se repitam vendas no mercado negro e esquecimentos dos alunos. "Seria mais económico e produtivo", diz.
No Agrupamento de Aveiro há situações diferentes. "Cerca de metade dos alunos usa sistematicamente o Magalhães, uma a duas horas por semana, enquanto os restantes o utilizam ocasionalmente", diz Joaquina Mourato, da direcção. O menor uso deve-se ao facto de alguns não o terem e de muitos estarem avariados, devido a problemas com bateria e desconfigurações.
O JN contactou o Ministério da Educação para um balanço oficial, mas não obteve resposta.
* Com CARINA FONSECA, JOÃO PAULO COSTA, PEDRO VILA-CHÃ