"Sofri ataques de Santana, mas não tão pensados como os de Sócrates"

Entrevista a José Manuel Fernandes

"Sofri ataques de Santana, mas não tão pensados como os de Sócrates"

por Adriano Nobre, Publicado em 18 de Agosto de 2010

José Manuel Fernandes diz que mais do que o fim de um ciclo político, o país pode estar a aproximar-se do fim de um regime

Abandonou a direcção do "Público" no final de Outubro e continua a achar que foi a melhor decisão que tomou. Apesar de admitir ter saudades do ambiente da redacção, dá mais valor à liberdade que agora sente para fazer "algumas coisas que queria fazer há muito tempo". Mantém uma colaboração regular com o jornal, faz comentário político, mas está agora mais disponível para escrever livros e dar aulas, por exemplo. Relativamente à sua saída da direcção do "Público", fica apenas um lamento: a infeliz coincidência entre o timing de saída e a polémica que se arrastou durante meses com a manchete que agitou o mundo político no Verão de 2009.

Passado um ano da publicação da manchete do "Público" sobre as alegadas escutas em Belém, que análise faz a toda a polémica que se seguiu?

Talvez não tivesse na altura uma noção tão clara como tenho hoje do tipo de forças que foram postas em movimento entre as eleições europeias, em Junho, e as eleições legislativas, em Setembro, para que a derrota das europeias não se repetisse. O que mais retenho, no entanto, é que foi das campanhas em que menos se verificou uma colagem entre o que foi prometido pelo partido vencedor e o que depois veio a acontecer.

Voltaria a fazer a mesma manchete?

No primeiro dia indiscutivelmente sim. No segundo dia... houve uma necessidade de justificar a notícia do primeiro dia que não era necessária. Era uma história do ano anterior [sobre um alegado espião do governo na comitiva presidencial numa visita à Madeira] que não tinha dado nada e que depois se decidiu recuperar. Talvez não fizesse grande sentido, apesar de servir de contexto. Mas quanto à primeira história faria tudo igual: eram declarações formais da casa civil do Presidente da República.

Cavaco Silva nunca desmentiu...

Pois não. Nem na comunicação que fez depois ao país. Tenho a convicção absoluta de que havia grande mal-estar entre Belém e São Bento. Porque havia a ideia - que nem acho que fosse verdadeira - de que aquela liderança do PSD era Cavaco Silva através de outra figura.

Acha que a recuperação da história pelo "DN", com a divulgação da fonte de Belém a poucos dias das legislativas, teve impacto no eleitorado?

Não acredito que tenha mudado nada. O que tornou claro foi que houve uma semana em que praticamente não houve campanha eleitoral, e isso sim pode ter tido influência: houve um silenciamento absoluto da campanha.

Nunca chegou a saber como é que esses mails publicados pelo "DN" saíram do sistema do "Público"?

Não. Nem o facto de essa troca de mails interna do "Público" ter sido publicada noutro jornal foi alvo de qualquer sanção ou processo na comissão da carteira. Não quiseram falar mais do assunto. Mas para mim a gravidade do que se passou mantém-se. Para todos os efeitos o que aconteceu foi uma intrusão na privacidade da comunicação das pessoas, que, sem se saber como, aparece publicada noutro jornal.

Não havia interesse público na divulgação da fonte de Belém?

De forma alguma. Se Belém tivesse desmentido a notícia haveria interesse público. Mas sem desmentido qual é o interesse? Por comparação com tanta coisa que teve discussão pública sobre violação de comunicações e sobre o que era dito nessas comunicações, aquela troca de mails do "Público" não tem gravidade nenhuma. Com a agravante de que o acesso a esses mails não foi autorizado por um juiz, ao contrário das escutas tão discutidas. Aliás, a própria pessoa em si, a "fonte", não faz parte da troca de mails. É só diz que disse. Agora imagine o que seria se transformássemos em prova tudo o que foi dito por todas as pessoas naquelas escutas em que se preparavam milhentas coisas muito mais gravosas, sobre compras de empresas, interesses... É por isso que me custa perceber que uma troca de mails possa ocupar tanto espaço noutro jornal. Até porque, como se veio a saber pelo jornal [o "Expresso"] a quem foi oferecida primeiro essa troca de mails do "Público", quem passou a informação era "uma fonte com interesses".

A sua saída do jornal já estava decidida, mas ocorre depois desta polémica. Ficou magoado por essa coincidência?

Se quando eu decidi a data de saída soubesse que isto ia acontecer entretanto, não tinha saído nessa altura. Mas as coisas já estavam decididas e não havia razão para não cumprir o que estava programado e assumir um ónus que não tinha razão de ser.

Sentiu-se empurrado da direcção pelas vozes contestatárias da linha editorial do "Público"?

Não. Sempre houve vozes contestatárias em todos os governos durante o período em que estive na direcção do "Público". Sempre houve problemas, porque o jornal sempre foi incómodo, sempre publicou histórias de que eles não gostavam e eu nunca deixei de criticar quem tinha de criticar. Já tinha sofrido ataques de Santana Lopes, por exemplo na campanha eleitoral de 2005, embora esses ataques fossem mais epidérmicos e não tão pensados, nem com a repercussão e a encenação que tiveram os ataques de José Sócrates num congresso.

Sente hoje o "Público" diferente? Já publicou um artigo de opinião de José Sócrates aquando do veto ao negócio PT/Telefónica.

Isso é um problema de José Sócrates e não meu. Nós pedimos muitas entrevistas e até era habitual os primeiros-ministros publicarem artigos do "Público" antes das cimeiras europeias. Aconteceu com António Guterres e Durão Barroso, mas não era um hábito de José Sócrates. E não era por o jornal não querer.

Disse na comissão de Ética que este foi o primeiro-ministro que pior lidou com a liberdade de imprensa. Porquê?

Ainda antes de ser primeiro-ministro já havia alguma tensão pela forma como ele lidava com questões banais como o facto de haver críticas contra ele no jornal. Hoje em dia, com tudo o que aconteceu no final da anterior legislatura, as pessoas esquecem um pouco o que se passou no período áureo dessa legislatura, com a maioria absoluta, entre 2007 e 2008. É bom lembrar, por exemplo, que quando nós publicámos a primeira história da licenciatura ela foi silenciada em todos os outros jornais, rádios ou televisões durante oito dias exactos. Só a Rádio Renascença pegou nisso episodicamente, mas tirou a peça do ar depois de receber um telefonema dos assessores. Ninguém noticiou aquilo, quando o interesse público era óbvio. Como é que isso aconteceu durante tanto tempo? É porque algo não estava bem neste sector: não foi apenas pela existência de telefonemas, mas devido a um determinado clima instalado. Aliás, quando o primeiro-ministro vai à RTP para dar as suas explicações sobre a licenciatura, se as pessoas só vissem a RTP não perceberiam de que é que ele estava a falar porque a RTP não tinha dado uma única notícia sobre o assunto. Só tinha havido referências vagas no programa de Marcelo Rebelo de Sousa. Isso é normal? É independente? Mas a Entidade Reguladora da Comunicação achou normal...

E a culpa foi dos assessores do governo ou do marasmo dos jornalistas?

Um bocado de tudo, porque estas coisas só acontecem quando há predisposição para que seja assim. Há governos que não têm um minuto de estado de graça, como foi o caso de Santana Lopes. Este governo, às vezes fazendo coisas exactamente iguais, teve todo o estado de graça. Hoje penso que não diminuiu a eficiência da máquina de comunicação do governo, mas percebe-se que o ambiente já não é o mesmo. Porquê? Porque não é possível voltar atrás e as coisas já não são como eram há cinco anos, já não há tanta tolerância e condescendência. Da mesma forma que, olhando para o noticiário que é publicado, se percebe que a liderança de Passos Coelho está a beneficiar de um estado de graça a que Ferreira Leite nunca teve direito. É um bocado parecido com o que aconteceu com José Sócrates no início, na relação com os meios quando aparecem.

Acha que está a passar para os jornalistas uma certa ideia de fim de regime socialista?

É provável. Mas acho que não é só isso, porque também poderia ter passado essa ideia para os jornalistas quando o PS perdeu as eleições europeias no ano passado. Nessa época até tinha havido uma derrota eleitoral de Sócrates e nesta altura não houve nenhuma. No entanto, nunca houve a percepção de Manuela Ferreira Leite como eventual futura primeira-ministra. Eu acho que isso tem a ver com questões culturais, geracionais, com a maneira de estar e com a identificação das pessoas.

Faltava marketing a Ferreira Leite?

Eu acho que nem o melhor marketing do mundo a salvava. Pela própria natureza dela, que não é vendável numa perspectiva de marketing, porque ela própria resistia a isso. Mas em relação aos estados de graça, às vezes nem sei bem definir de onde vêm. Limito-me a constatá-los. Por exemplo: durante anos a fio, sempre que o BE e Francisco Louçã apareciam na imprensa apareciam de forma positiva, era difícil encontrar retratos negativos. Hoje já é um pouco diferente, até pela usura da vida parlamentar. Por comparação, é muito difícil encontrar na comunicação social generalista visões positivas do PCP. E valem eleitoralmente o mesmo. Porquê? Talvez porque haja uma identificação cultural e até ideológica entre muitos jornalistas e o BE. Porque o BE era visto como uma coisa moderna e o PCP como uma coisa arqueológica. Isso percebe-se lendo os jornais, vendo televisão e ouvindo as conversas dos jornalistas.

Isso é uma perversão do jornalismo.

Sem dúvida. Mas dou outro exemplo: os referendos. No referendo ao aborto percebeu-se claramente que a maioria das redacções estava a favor do ''sim'' e que no referendo à regionalização a maioria estava a favor do ''não''. Por muito que se tentasse equilibrar isso com os artigos de opinião, quando chegava à altura das reportagens e à forma de apresentá-las, qualquer exagero da campanha de um lado ou de outro eram vistas de forma diferente. Radicalismos de um lado eram desculpados e de outro eram atacados e colocados em parangonas, ou glosados em cartoons. O erro está em achar-se que os jornalistas são completamente objectivos. Se se reconhecer que o jornalista não é completamente objectivo, conseguem encontrar-se formas de compensar essa subjectividade da profissão. É importante encontrar esses equilíbrio dentro das próprias redacções. Por exemplo, é bom que os temas sejam abordados por diferentes jornalistas para colocá-los sob diferentes subjectividades. Os jornalistas são subjectivos porque são seres humanos. Portanto os seus olhares, por mais objectivos que sejam, reflectem sempre a sua experiência de vida ou visão pessoal.

Não seria preferível os jornais assumirem posições, como por exemplo os "endorsement" dos jornais norte-americanos nas eleições?

Na maioria dos jornais norte-americanos o ''endorsement'' não corresponde formalmente a um apoio. Apesar desse ''endorsement'' eles tentam ser equidistantes e na prática é possível encontrar essa equidistância nalguns órgãos de informação. Noutros não é. Mas o ''endorsement'' não é alinhamento. Em Espanha, por exemplo, não temos jornais a dar sentido de voto, mas toda a gente sabe a tendência de cada jornal.

Em Portugal isso não acontece. Não seria preferível?

Não acontece por várias razões, mas a principal é por sermos um mercado muito pequeno e muito limitado a Lisboa e Porto. Isso significaria a necessidade de haver pelo menos um jornal popular de direita e um jornal popular de esquerda e depois um jornal de referência de direita e outro jornal de referência de esquerda. Como acontece em Espanha, Itália ou França. Mas eles têm mercados muito maiores. Em Portugal era impossível, por isso os jornais tentaram sempre abranger o maior número possível de públicos. Por outro lado, a própria cultura do jornalismo português ficou vacinada com a experiência do PREC e com a partidarização dos jornais. Isso resultou numa enorme quantidade de cadáveres de jornais e revistas que desapareceram. A partir daí passou a fazer-se um jornalismo mais equidistante. Ainda me lembro de quando fui para o "Expresso" me terem dito que eu ia para um jornal do PSD...

Por causa de Balsemão...

Sim, embora quando eu fui para lá ele já fosse primeiro-ministro. Mas eu sempre disse que estavam enganados, porque o jornal era diferente. Depois surgiu o "Semanário", que foi dos últimos jornais a ser lançado como um projecto político, ligado a uma área da direita. Isso libertou o "Expresso" da imagem de ligação ao PSD e permitiu-lhe afirmar-se como jornal independente. E afirmou-se quase como uma matriz para todo o resto da imprensa. Acho que hoje todos os jornais, de uma forma ou outra, copiam o "Expresso". Basta pensar que o "Público" saiu do "Expresso" e que depois condicionou muito todas as alterações na imprensa diária. E quem marcou a informação televisiva também foi a SIC, que veio igualmente da Impresa.

Agora que assume uma posição de comentador político, também partilha da opinião de que o governo PS está próximo do fim e que Portugal vai ter eleições legislativas em 2011?

Estamos numa fase um bocado pesada da política portuguesa. Não sei se estamos apenas no fim de um ciclo de Sócrates, como antes houve os ciclos de Cavaco ou Guterres, ou se não estaremos numa situação mais complicada que é o fim de um regime. Ainda no outro dia li um artigo do José Miguel Sardica sobre o fim da monarquia e em que ele diz que em Portugal os regimes nunca se souberam auto-regenerar e que morreram por dentro. Desfizeram-se. Há elementos semelhantes nesta altura, porque há muito azedume do eleitorado relativamente aos políticos. O que me parece mais complicado é encontrar formas naturais de sair deste ciclo de dívidas e défices intermináveis. Quando acabar este PEC vem outro a seguir. Qual é a saída? Qual é o partido que consegue ganhar as eleições sem ser com mandatos ao contrário daquilo que depois vão fazer no governo? Quando isso acontece muitas vezes, cria-se um deslaçamento entre os eleitores e os seus dirigentes. Dizer a verdade é algo que quase nunca acontece porque se tem a perspectiva de que se tem de ser optimista, se não as coisas ainda ficam pior.

Quando sai da direcção do "Público" e depois aparece numa conferência do PSD houve quem visse nessa atitude o revelar de uma "agenda" escondida.

Já fui a várias sessões de partidos quando me convidam. Não acho que tenha de ter direitos diminuídos como cidadão por ser, ou ter sido, director de um jornal. Se achar que faz sentido e que posso dar um contributo, participo.

Tem saudades do ambiente da redacção de um jornal?

Se disser que não tenho é mentira. Mas o sentimento de que estou a viver uma fase diferente e que posso fazer coisas que queria fazer há muito tempo, ainda supera largamente essas saudades. Quando penso no resto que ganhei continuo a sentir que foi a decisão acertada.

EDP paga aulas de Manuel Pinho em Columbia

EDP paga aulas de Manuel Pinho em Columbia

13 Agosto 2010 | 00:01

Helena  Garrido  - Helenagarrido@negocios.pt

A cadeira que Manuel Pinho vai dar na Universidade de Columbia está integrada num projecto a quatro anos financiado pela EDP.

image A eléctrica portuguesa fez uma doação à School of International and Public Affairs (SIPA), num montante que pediu à Universidade nova-iorquina para não divulgar [3 milhões, ao que consta] e que tem como uma das iniciativas o seminário sobre energia renováveis que vai ser leccionado pelo ex-ministro da Economia.
"Manuel Pinho será professor visitante School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade Columbia. A sua posição faz parte de uma série de novas iniciativas que estão a ser apoiadas pela EDP", disse ao Negócios fonte oficial da Universidade e Columbia.

Lei obriga a menos sal no pão

Saúde: Prevenção de doenças cardiovasculares

Lei obriga a menos sal no pão

Entra amanhã em vigor a lei que limita o teor de sal no pão, punindo o desrespeito com coimas entre 500 e 500 0 euros. Ocupando o pão um lugar central na alimentação dos portugueses e provada que está a associação do sal à hipertensão arterial, os médicos acreditam que esta medida pode traduzir-se em benefícios para a saúde, nomeadamente a nível da prevenção de acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos.

11 Agosto 2010

Por:Isabel Ramos

"O efeito não será imediato e nem devemos acreditar que, com esta lei, resolvemos o problema de excesso de sal na alimentação, pois são precisas outras medidas, mas é um primeiro passo importante", avalia o médico de Saúde Pública e responsável da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Luís Negrão. "O pão é, entre os alimentos consumidos com regularidade, o que tem maior teor de sódio", lembra.

"Esta lei sinaliza um problema. O pão é um dos principais veículos do sal na alimentação dos portugueses, mas não é o único. Daí que só possa produzir resultados do ponto de vista da saúde se articulada com outras medidas", reforça Alexandra Bento, presidente da Associação Portuguesa de Nutricionistas. "Também a sopa servida nos restaurantes tem muito sal", afirma, para se referir apenas a produtos de consumo diário.

Já o presidente da Associação do Comércio e da Indústria da Panificação e Pastelaria (ACIP), Carlos Santos, considera "nulo" o impacto da nova lei, uma vez que em Portugal, assegura, "o pão sempre foi produzido com um teor de sal abaixo dos 14 gramas". Notando que, na receita tradicional, a quantidade de sal varia entre 11 e 13 gramas, o mesmo responsável qualifica de "mentira" o estudo da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, segundo o qual o pão nacional, com 19 a 20 gramas, tem quase o dobro do sal comparado com dez outros países europeus. Sem receio de inspecções da ASAE, entidade fiscalizadora, Carlos Santos diz que qualquer ultrapassagem do limite só pode resultar de "erro humano".

Portugal Gives Itself a Clean-Energy Makeover

Portugal Gives Itself a Clean-Energy Makeover

Rupert Eden for The New York Times

A wind farm at Barão de São João, south of Lisbon.

By ELISABETH ROSENTHAL
Published: August 9, 2010

LISBON — Five years ago, the leaders of this sun-scorched, wind-swept nation made a bet: To reduce Portugal’s dependence on imported fossil fuels, they embarked on an array of ambitious renewable energy projects — primarily harnessing the country’s wind and hydropower, but also its sunlight and ocean waves.

Beyond Fossil Fuels

Lessons From Europe

Articles in this series examine innovative attempts to reduce the world’s dependence on coal, oil and other carbon-intensive fuels, and the challenges faced.

Multimedia

Leading the Way Toward Renewable Power
Related

Green

A blog about energy and the environment.

Go to Blog

Enlarge This Image

Rupert Eden for The New York Times

José Cristino, a farmer, said the wind farm project was “good for the country because it’s clean energy and it’s good for the landowners who got money, but it hasn’t brought me any good.” He said, “I look at these things day and night.”

Enlarge This Image

Rupert Eden for The New York Times

A solar station in Moura generates power, but few permanent jobs.

Readers' Comments
Readers shared their thoughts on this article.

Today, Lisbon’s trendy bars, Porto’s factories and the Algarve’s glamorous resorts are powered substantially by clean energy. Nearly 45 percent of the electricity in Portugal’s grid will come from renewable sources this year, up from 17 percent just five years ago.

Land-based wind power — this year deemed “potentially competitive” with fossil fuels by the International Energy Agency in Paris — has expanded sevenfold in that time. And Portugal expects in 2011 to become the first country to inaugurate a national network of charging stations forelectric cars.

“I’ve seen all the smiles — you know: It’s a good dream. It can’t compete. It’s too expensive,” said Prime Minister José Sócrates, recalling the way Silvio Berlusconi, the Italian prime minister, mockingly offered to build him an electric Ferrari. Mr. Sócrates added, “The experience of Portugal shows that it is possible to make these changes in a very short time.”

The oil spill in the Gulf of Mexico has renewed questions about the risks and unpredictable costs of America’s unremitting dependence on fossil fuels. President Obama has seized on the opportunity to promote his goal of having 20 to 25 percent of America’s electricity produced from renewable sources by 2025.

While Portugal’s experience shows that rapid progress is achievable, it also highlights the price of such a transition. Portuguese households have long paid about twice what Americans pay for electricity, and prices have risen 15 percent in the last five years, probably partly because of the renewable energy program, the International Energy Agency says.

Although a 2009 report by the agency called Portugal’s renewable energy transition a “remarkable success,” it added, “It is not fully clear that their costs, both financial and economic, as well as their impact on final consumer energy prices, are well understood and appreciated.”

Indeed, complaints about rising electricity rates are a mainstay of pensioners’ gossip here. Mr. Sócrates, who after a landslide victory in 2005 pushed through the major elements of the energy makeover over the objections of the country’s fossil fuel industry, survived last year’s election only as the leader of a weak coalition.

“You cannot imagine the pressure we suffered that first year,” said Manuel Pinho, Portugal’s minister of economy and innovation from 2005 until last year, who largely masterminded the transition, adding, “Politicians must take tough decisions.”

Still, aggressive national policies to accelerate renewable energy use are succeeding in Portugal and some other countries, according to a recent report by IHS Emerging Energy Research of Cambridge, Mass., a leading energy consulting firm. By 2025, the report projected, Ireland, Denmark and Britain will also get 40 percent or more of their electricity from renewable sources; if power from large-scale hydroelectric dams, an older type of renewable energy, is included, countries like Canada and Brazil join the list.

The United States, which last year generated less than 5 percent of its power from newer forms of renewable energy, will lag behind at 16 percent (or just over 20 percent, including hydroelectric power), according to IHS.

To force Portugal’s energy transition, Mr. Sócrates’s government restructured and privatized former state energy utilities to create a grid better suited to renewable power sources. To lure private companies into Portugal’s new market, the government gave them contracts locking in a stable price for 15 years — a subsidy that varied by technology and was initially high but decreased with each new contract round.

Compared with the United States, European countries have powerful incentives to pursue renewable energy. Many, like Portugal, have little fossil fuel of their own, and theEuropean Union’s emissions trading system discourages fossil fuel use by requiring industry to essentially pay for excessive carbon dioxide emissions.

Portugal was well poised to be a guinea pig because it has large untapped resources of wind and river power, the two most cost-effective renewable sources. Government officials say the energy transformation required no increase in taxes or public debt, precisely because the new sources of electricity, which require no fuel and produce no emissions, replaced electricity previously produced by buying and burning imported natural gas, coal and oil. By 2014 the renewable energy program will allow Portugal to fully close at least two conventional power plants and reduce the operation of others.

“So far the program has placed no stress on the national budget” and has not created government debt, said Shinji Fujino, head of the International Energy Agency’s country study division.

If the United States is to catch up to countries like Portugal, energy experts say, it must overcome obstacles like a fragmented, outdated energy grid poorly suited to renewable energy; a historic reliance on plentiful and cheap supplies of fossil fuels, especially coal; powerful oil and coal industries that often oppose incentives for renewable development; and energy policy that is heavily influenced by individual states.

The relative costs of an energy transition would inevitably be higher in the United States than in Portugal. But as the expense of renewable power drops, an increasing number of countries see such a shift as worthwhile, said Alex Klein, research director, clean and renewable power generation, at IHS.

“The cost gap will close in the next decade, but what you get right away is an energy supply that is domestically controlled and safer,” Mr. Klein said.

Necessity Drives Change

Portugal’s venture was driven by necessity. With a rising standard of living and no fossil fuel of its own, the cost of energy imports — principally oil and gas — doubled in the last decade, accounting for 50 percent of the country’s trade deficit, and was highly volatile. The oil went to fuel cars, the gas mainly to electricity. Unlike the United States, Portugal never depended heavily on coal for electricity generation because close and reliable sources of natural gas were available in North Africa, and Europe’s carbon trading system could make coal costly.

Portugal is now on track to reach its goal of using domestically produced renewable energy, including large-scale hydropower, for 60 percent of its electricity and 31 percent of its total energy needs by 2020. (Total energy needs include purposes other than generating electricity, like heating homes and powering cars.)

In making the shift, Portugal has overcome longstanding concerns about reliability and high cost. The lights go on in Lisbon even when the wind dies down at the vast two-year-old Alto Minho wind farm. The country’s electricity production costs and consumer electricity rates — including the premium prices paid for power from renewable sources — are about average for Europe, but still higher than those in China or the United States, countries that rely on cheap coal.

Portugal says it has kept costs down by focusing heavily on the cheapest forms of renewable energy — wind and hydropower — and ratcheting down the premium prices it pays to lure companies to build new plants.

While the government estimates that the total investment in revamping Portugal’s energy structure will be about 16.3 billion euros, or $22 billion, that cost is borne by the private companies that operate the grid and the renewable plants and is reflected in consumers’ electricity rates. The companies’ payback comes from the 15 years of guaranteed wholesale electricity rates promised by the government. Once the new infrastructure is completed, Mr. Pinho said, the system will cost about 1.7 billion euros ($2.3 billion) a year less to run than it formerly did, primarily by avoiding natural gas imports.

A smaller savings will come from carbon credits Portugal can sell under the European Union’s carbon trading system: countries and industries that produce fewer emissions than allotted can sell permits to those that exceed their limits.

Mr. Fujino of the International Energy Agency said Portugal’s calculations might be optimistic. But he noted that the country’s transition had also created a valuable new industry: Last year, for the first time, it became a net power exporter, sending a small amount of electricity to Spain. Tens of thousands of Portuguese work in the field. Energias de Portugal, the country’s largest energy company, owns wind farms in Iowa and Texas, through its American subsidiary, Horizon Wind Energy.

Redesigning the System

A nationwide supply of renewable power requires a grid that can move electricity from windy, sunny places to the cities.

But a decade ago in Portugal, as in many places in the United States today, power companies owned not only power generating plants, but also transmission lines. Those companies have little incentive to welcome new sources of renewable energy, which compete with their investment in fossil fuels. So in 2000, Portugal’s first step was to separate making electricity from transporting it, through a mandatory purchase by the government of all transmission lines for electricity and gas at what were deemed fair market prices.

Those lines were then used to create the skeleton of what since 2007 has been a regulated and publicly traded company that operates the national electricity and natural gas networks.

Next, the government auctioned off contracts to private companies to build and operate wind and hydropower plants. Bidders were granted rights based on the government-guaranteed price they would accept for the energy they produced, as well as on their willingness to invest in Portugal’s renewable economy, including jobs and other venture capital funds. Some of the winners were foreign companies. In the latest round of bidding, the price guaranteed for wind energy was in the range of the price paid for electricity generated by natural gas.

Such a drastic reorganization might be extremely difficult in the United States, where power companies have strong political sway and states decide whether to promote renewable energy. Colorado recently legislated that 30 percent of its energy must come from renewable sources by 2020, but neighboring Utah has only weak voluntary goals. Coal states, like Kentucky and West Virginia, have relatively few policies to encourage alternative energies.

In Portugal, said Mr. Pinho, the former economy minister, who will join Columbia University’s faculty, “the prime minister had an absolute majority.”

“He was very strong, and everyone knew we would not step back,” Mr. Pinho said.

A Flexible Network

Running a country using electricity derived from nature’s highly unpredictable forces requires new technology and the juggling skills of a plate spinner. A wind farm that produces 200 megawatts one hour may produce only 5 megawatts a few hours later; the sun shines intermittently in many places; hydropower is plentiful in the rainy winter, but may be limited in summer.

Portugal’s national energy transmission company, Redes Energéticas Nacionais or R.E.N., uses sophisticated modeling to predict weather, especially wind patterns, and computer programs to calculate energy from the various renewable-energy plants. Since the country’s energy transition, the network has doubled the number of dispatchers who route energy to where it is needed.

“You need a lot of new skills. It’s a real-time operation, and there are far more decisions to be made — every hour, every second,” said Victor Baptista, director general of R.E.N. “The objective is to keep the system alive and avoid blackouts.”

Like some American states, Portugal has for decades generated electricity from hydropower plants on its raging rivers. But new programs combine wind and water: Wind-driven turbines pump water uphill at night, the most blustery period; then the water flows downhill by day, generating electricity, when consumer demand is highest.

Denmark, another country that relies heavily on wind power, frequently imports electricity from its energy-rich neighbor Norway when the wind dies down; by comparison, Portugal’s grid is relatively isolated, although R.E.N. has greatly increased its connection with Spain to allow for energy sharing.

Portugal’s distribution system is also now a two-way street. Instead of just delivering electricity, it draws electricity from even the smallest generators, like rooftop solar panels. The government aggressively encourages such contributions by setting a premium price for those who buy rooftop-generated solar electricity. “To make this kind of system work, you have to make a lot of different kinds of deals at the same time,” said Carlos Zorrinho, the secretary of state for energy and innovation.

To ensure a stable power base when the forces of nature shut down, the system needs to maintain a base of fossil fuel that can be fired up at will. Although Portugal’s traditional power plants now operate many fewer hours than before, the country is also building some highly efficient natural gas plants.

To accommodate all this, Portugal needed new transmission lines from remote windy regions to urban centers. Portugal began modernizing its grid a decade ago. Accommodating a greater share of renewable power cost an additional 480 million euros, or about $637 million, an expense folded into electricity rates, according to R.E.N.

Last year, President Obama offered billions of dollars in grants to modernize the grid in the United States, but it is not clear that such a piecemeal effort will be adequate for renewable power. Widely diverse permitting procedures in different states and the fact that many private companies control local fragments of the grid make it hard to move power over long distances, for example, from windy Iowa to users in Atlanta. The American Society of Civil Engineers gave the United States’ grid a “D+,” commenting that it is “in urgent need of modernization.”

“A real smart national grid would radically change our technology profile,” said John Juech, vice president for policy analysis at Garten Rothkopf, a Washington consulting firm that focuses on energy. “But it will be very costly, and the political will may not be there.”

A 2009 report commissioned by the Pew Center on Global Climate Change estimated that the United States would have to spend $3 billion to $4 billion a year for the next two decades to create a grid that could accommodate deriving 20 percent of electricity from wind power by 2030 — a 40 percent to 50 percent increase over current spending.

The Drawbacks

Energy experts consider Portugal’s experiment a success. But there have been losers. Many environmentalists object to the government plans to double the amount of wind energy, saying lights and noise from turbines will interfere with birds’ behavior. Conservation groups worry that new dams will destroy Portugal’s cork-oak habitats.

Local companies complain that the government allowed large multinationals to displace them.

Until it became the site of the largest wind farm south of Lisbon, Barão de São João was a sleepy village on the blustery Alentejo Coast, home to farmers who tilled its roller coaster hills and holiday homeowners drawn to cheap land and idyllic views. Renewable energy has brought conflict.

“I know it’s good for the country because it’s clean energy and it’s good for the landowners who got money, but it hasn’t brought me any good,” said José Cristino, 48, a burly farmer harvesting grain with a wind turbine’s thrap-thrap-thrap in the background. “I look at these things day and night.” He said 90 percent of the town’s population had been opposed.

In Portugal, as in the United States, politicians have sold green energy programs to communities with promises of job creation. Locally, the effect has often proved limited. For example, more than five years ago, the isolated city of Moura became the site of Portugal’s largest solar plant because it “gets the most sun of anywhere in Europe and has lots of useless space,” said José Maria Prazeres Pós-de-Mina, the mayor.

But while 400 people built the Moura plant, only 20 to 25 work there now, since gathering sunlight requires little human labor. Unemployment remains at 15 percent, the mayor said — though researchers, engineers and foreign delegations frequently visit the town’s new solar research center.

Indeed, Portugal’s engineers and companies are now global players. Portugal’s EDP Renováveis, first listed on stock exchanges in 2008, is the third largest company in the world in wind-generated electricity output. This year, its Portuguese chief executive, Ana Maria Fernandes, signed contracts to sell electricity from its wind farm in Iowa to the Tennessee Valley Authority.

“Broadly, Europe has had great success in this area,” said Mr. Juech, the analyst at Garten Rothkopf. “But that is the result of huge government support and intervention, and that raises questions about what happens when you have an economic crisis or political change; will these technologies still be sustainable?”

A version of this article appeared in print on August 10, 2010, on page A1 of the New York edition.

 

"The New York Times" elogia aposta portuguesa nas renováveis

Cerca de 45% da eletricidade produzida em Portugal provém de energias renováveis, destaca hoje o jornal 'The New York Times' que enaltece a aposta do Governo português nesta área.

 

"Quase 45% da eletricidade em Portugal deriva de fontes renováveis, um aumento de 17% face aos últimos cinco anos" escreve o jornal norte-americano que dedica hoje três páginas a esta matéria e faz destaque na primeira página. 
Cinco anos depois de o Governo português liderado por José Sócrates ter "embarcado em projetos ambiciosos relacionados com as energias renováveis", o 'The New York Times' refere também "que Portugal espera ser o primeiro país a inaugurar uma rede nacional de carregamento de carros elétricos" já em 2011. 
"Ouvi todo o tipo de comentários: é um bom sonho, é incomportável, é muito caro", disse a propósito o primeiro ministro, José Sócrates, citado pelo jornal, acrescentando que "a experiência portuguesa mostra que é possível mudar num curto período de tempo".

Energia limpa no turismo

O jornal menciona que "atualmente, os melhores bares de Lisboa, as fábricas do Porto e os 'resorts' mais 'glamourosos' do Algarve são alimentandos substancialmente por energia limpa". 
No entanto, e apesar de a Agência Internacional de Energia ter classificado de "sucesso notável" a transição energética em Portugal, esta refere que "não é ainda claro que os custos financeiros, bem como o impacto no preço final ao consumidor, sejam compreendidos e bem aceites". 
"Não imaginam as pressões que sofremos no primeiro ano", disse ao mesmo jornal o antigo ministro da Economia Manuel Pinho, um dos grandes impulsionadores da aposta portuguesa nas energias renováveis: ondas, sol e vento. 

Mais países apostam nas renováveis

Apesar de alguns obstáculos, "as políticas agressivas tomadas pelo Governo português para acelerar o recurso às energias renováveis estão a ser bem sucedidas", escreve o jornal, que cita um estudo sobre energias alternativas da Universidade de Cambridge, Estados Unidos. 
De acordo com este último (estudo), estima-se que em 2025 a eletricidade em países como a Irlanda, Dinamarca e Reino Unido seja proveniente de fontes renováveis. Também o Canadá e o Brasil deverão integrar este grupo.

Os donos do Gerês

Os donos do Gerês, DN, Notícias Magazine

03/08/2010 | 21:22

image

 

por Carla Amaro. Fotografia de Paulo Magalhães

Os habitantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês andam há meses numa inquietação que não mata mas mói. Motivo: a proposta de revisão do Plano de Ordenamento do Parque, neste momento em apreciação na tutela. Além de uma série de restrições que os «impedem de viver como até aqui», interdita a instalação de parques eólicos. A população entende a proibição como um entrave ao desenvolvimento da região e um incentivo ao êxodo rural. E não entende porque é que as serras de norte a sul do país estão cheias de aerogeradores e as da Peneda-Gerês não os podem ter. Com o dinheiro do arrendamento dos terrenos baldios, esperavam resolver a falta de saneamento básico e de água canalizada em algumas aldeias.

Do alto da serra Amarela, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), José Augusto Fernandes fita um ávido olhar nas cumeadas longínquas e num tom inflamado acusa quem quer proibir os equipamentos eólicos dentro do único parque nacional em Portugal: «É uma ideia imbecil, que só podia vir de senhores doutores da capital enfiados o dia todo em gabinetes. É uma estupidez não aproveitar este vento para produzir energia.» A ira deste empresário do sector energético deve-se à revisão do Plano de Ordenamento (PO) do PNPG, cuja proposta está a marinar no Ministério do Ambiente para apreciação, não se sabendo, segundo apurámos junto do gabinete de imprensa da ministra Dulce Pássaro, quando haverá uma decisão final. Se dependesse do dono da ARELEC, empresa de energias renováveis, não tardaria, o parque nacional estaria cheio de ventoinhas gigantes nos locais onde o vento sopra mais forte. Mas será que o benefício económico de alguns, inclusive de quem gere os terrenos baldios que ocupam a área maior do parque, justifica desbravar caminhos e cicatrizar uma paisagem apreciada por todos?
Uma coisa parece, pelo menos a quem é de fora e preenche um dia a falar com os locais: a vida nas serras da Peneda-Gerês segue pacata, não sem fadiga, como todos os dias. Aqui e ali, cavalos estirados junto à estrada; mais à frente, cortando a circulação automóvel, vacas atravessam com lentidão a estrada em direcção aos pastos, restaurantes e cafés não fazem casa cheia mas também não lhes falta freguesia, quem faz os campos agrícolas retira o proveito da estafa da Primavera, época do plantio da batata ? agora a altura é de as cavar.
Independentemente do que está em jogo na proposta de revisão do PO, há quem faça a vida sem a inquietação que fervilha na generalidade da população. António Santos, por exemplo, que nada sabe do assunto. De enxada ao ombro, António desce a serra pela berma da estrada alcatroada, a passo lento, em direcção a casa. Em cima do corpo, um dia inteiro de trabalho no campo. O cansaço salta à vista neste homem de 83 anos, as pernas arqueadas parecem suportar com custo o peso da sua magreza. Depois de 33 anos em Lisboa, a servir refeições num restaurante «muito fino», voltou a Mixões da Serra, onde nasceu e cresceu até à idade da tropa. Regresso forçado. Saiu da terra para se «livrar» da dureza do arado e agora é dele que retira o complemento da reforma. «Planto um bocado de tudo, batatas, cebolas, cenouras, feijão, tomate.» A isso se obriga, se quer «viver os últimos anos» sem aperto. «O que tirar do chão não gasto no supermercado e assim sempre poupo algum».
Há umas semanas, nesta terra da freguesia de Valdreu, situada na zona mais montanhosa do concelho de Vila Verde, abençoaram-se os animais. António, como todos os anos, fez questão de assistir à cerimónia. Não que tenha gado para Santo António abençoar, simplesmente porque gosta desta tradição emblemática que se repete em Junho no Santuário de Santo António de Mixões da Serra. Mais do que os curiosos, quem nunca falta à festa é quem tem cavalos, vacas, ovelhas, porcos, coelhos e galinhas e os quer proteger das doenças. Deste ritual que atrai milhares de pessoas a Mixões, António sabe bem falar, porque tem recordações de quando era gaiato de pés descalços. «O meu pai também lá levou o gado. Tínhamos muitas vacas. O senhor padre benzia-as uma a uma, e ainda hoje é assim, todos os animais são benzidos à vez.» Alheio ao conflito que coloca autarcas e população de um lado e ambientalistas e direcção do PNPG de outro, não desperdiça cuidados em assuntos que o desviem da rotina entre a casa e a lavoura. E como ele, alguns mais, que questionados sobre o que de concreto contestam na proposta de revisão, reconhecem que não leram o documento e o que dizem denuncia-lhes um conhecimento pela rama. Exemplo de António Danaia, a quem as fadigas de uma existência a pastorear grandes rebanhos ? «de oitenta cabras, às vezes mais» ? o obrigaram a deixar as transumâncias. Debaixo do sol abrasador do meio-dia, rosto tisnado, limpa o suor, e não acrescenta mais que o lavrador.
No entanto, o desconhecimento de António Santos, António Danaia e de outros não faz a regra. A alteração do PO tem apoquentado muitos residentes conhecedores do conteúdo do documento. São vários os pontos de conflito: além da proibição da exploração energética do vento (e da água, por mini-hídricas), os habitantes queixam-se de não poderem prosseguir com velhos «usos e costumes», com tradições como o pastoreio, a caça e o acesso a determinadas áreas do PNPG.  
Antes de desaparecer numa cerrada mancha de arbustos, por um corredor de terra batida, criação sua «para encurtar o caminho para casa», António Santos questiona: «Isso [os geradores eólicos] é uma coisa boa para o povo? Se fizesse que os rapazes e as raparigas cá ficassem era bom. Isto está a ficar sem gente nova», diz quem também se foi embora à procura de outras oportunidades. O problema da desertificação é um dos argumentos da população contra a revisão do plano que vigora desde 1995. «Eles [a direcção do PNPG e o governo] querem fazer disto um território cem por cento selvagem, mas isto sempre teve gente, eu vivo cá, nunca saí daqui à procura de emprego, mas há quem saia porque isto está a ficar sem condições para viver», afirma Manuel Freitas, presidente do Conselho Directivo de Campo do Gerês. «Os nossos montes são aforados, são nossos, do povo, e eles querem privar-nos dos nossos usos e costumes.» Quais?, perguntamos. «Não nos deixam ir à lenha para queimar, com tanta que por aí há. Não querem deixar-nos levar o gado a pastar onde a gente quer, o que vai causar prejuízos económicos a muito boa gente.» A Manuel, inclusive. Este funcionário da EDP em situação de pré-reforma dedica-se à agropecuária e precisa de alimentar as vacas nos prados do monte de Campo do Gerês, onde «a erva é boa para comer e o mato e a carqueja são abundantes». Olha para o cimo do monte: «Daqui de baixo parece que lá em cima é só pedregulhos, mas não é, tem alimento bom para as vacas.» Manuel tem cinco vacas «aleitantes». «Tenho-as para dar de mamar aos bezerros. Faço criação de bezerros e depois vendo-os aos matadouros.»

«A paisagem fica feia com as ventoinhas»
Enquanto serve café aos clientes do restaurante Stop, em Campo do Gerês, Carla Silva admite que o seu caso não sustenta razões de queixa: «Eu até que nem estou mal, enquanto o restaurante tiver clientes vou fazendo a minha vida.» Carla é co-proprietária do Stop, que gere com a mãe, a cozinheira. Dona Lila e as suas codornizes ainda atraem clientes de todo o país e de Espanha, aqui tão perto, mas já não como antigamente, desde que «a estrada de acesso ficou intransitável». «Eles vinham com o cheiro das codornizes». Ainda vêm, «mas não é o mesmo movimento», diz quem governou a vida com caldo verde, presunto e codornizes no primeiro restaurante a surgir em todo o parque nacional, vai para 35 anos, e continua a ser paragem aos fins-de-semana, para almoçar, de «clientes importantes» como «a família de Sá Carneiro» e «os tios de António Vitorino». Isto para não falar de um almoço há muitos anos com a ex-primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo, que reuniu no Stop «mais de trezentas pessoas».
«Ninguém faz codornizes como a dona Lila», insiste o cliente habitual e vizinho Manuel Freitas. Quem dera ao presidente do Conselho Directivo de Campo de Gerês estar tão satisfeito com os desígnios do parque nacional como está, desde que lhes conhece o sabor, com a mestria culinária de dona Lila. Acrescenta à lista de querelas a proibição de parques eólicos: «Isso de não deixarem a gente meter aerogeradores onde eles fazem falta não nos ajuda nada. Seria bom para o povo. Falta fazer muita coisa aqui e se não fizermos os jovens fazem as malas e vão-se embora. Sem dinheiro não podemos fazer nada.» Carla volta à conversa: «Eu não sei se é bom ou se é mau para as pessoas daqui, eu cá não gosto de ver as ventoinhas lá em cima.» Continua: «A paisagem fica feia.» A mãe concorda: «O Gerês é natureza, as pessoas sentem-se atraídas pela beleza da paisagem e vêm passear até cá, ficam o fim-de-semana, algumas passam férias. Acho que o Gerês está bem assim, sem ventoinhas.» Manuel Freitas contra-argumenta: «Mas as ventoinhas trazem dinheiro que podia aplicar-se no desenvolvimento da região.»
O Movimento Peneda-Gerês com Gente é uma das vozes mais críticas do novo documento, representa «nove mil pessoas da região» e tem como porta-voz José Carlos Pires, de Campo do Gerês. Para este habitante e dono de um parque de campismo na região, o texto agora proposto «é excessivamente restritivo, com a agravante de que impõe taxas para se fazer o que até aqui fazíamos sem problema». Por exemplo, extrair pedra ou proceder à limpeza dos terrenos privados. «Se o terreno é meu, porque tenho de pedir autorização ao Estado e de pagar uma taxa para cortar mato? Não faz sentido nenhum, não aceitamos isso.» Outro residente do parque, Américo Barroso, de São João do Campo, concorda: «É absurdo, se quisermos pedra para erguer um muro, pavimentar o chão ou fazer uma casa temos de ir comprá-la a Braga. Para quê, se temos aí muita?», aponta para as cumeadas rochosas. Quanto aos aerogeradores, «não fazem cá falta nenhuma, acho que iam estragar a beleza natural deste sítio. Até podem ter vantagens do ponto de vista financeiro, mas o dinheiro não justifica tudo. Sou funcionário da EDP, sei que a minha empresa está a investir muito em energias renováveis, mas aqui no Gerês não gostava nada de as ver. Neste aspecto, não me importo com as restrições [propostas na revisão do Plano de Ordenamento].»
Pelo testemunho de Carla Silva, de Dona Lila e de Américo Barroso, podemos aferir que, afinal, nem todos os que vivem no parque nacional querem que os aerogeradores invadam as cumeadas do PNPG. Em todo o caso, o líder do Movimento Peneda-Gerês com Gente fala pela maioria da população e com firmeza garante: «Não vamos aceitar que nos impeçam de ter proveitos económicos com os parques eólicos. Porque é que nós não os podemos ter?  Eles estão por todo o lado.» Isso é uma evidência. De onde quer que se esteja no parque nacional, é impossível não os ver. Olhe-se em volta, em frente, atrás, não faltam parques eólicos. No lado espanhol também os há, às dezenas, só que lá o espaço tem a designação de parque natural, cá está classificado como parque nacional desde 1971, o que só por si, defende o director do PNPG, «exige a implementação de medidas de protecção ambiental». Lagido Domingos justifica a interdição dos investimentos no sector da energia eólica com os estudos de impacte ambiental até agora apresentados, cujas conclusões são invariáveis: «Esses investimentos põem em causa valores naturais relevantes, sendo por isso mais adequado e transparente interditá-los.» De salientar que ao longo de anos, antes desta proposta de revisão do PO do PNPG, foram submetidos a apreciação inúmeros projectos para exploração eólica dentro do parque nacional, tendo sido todos rejeitados pelos efeitos ambientais negativos inerentes, conforme indicavam os estudos de impacte ambiental.

O que tem o parque nacional que os outros não têm?
A maior parte das juntas de freguesia uniram-se ao movimento para lutar contra a «estagnação a que a região será obrigada», caso o novo plano seja aprovado. «Como é que querem manter as pessoas aqui se nos proíbem quase tudo? O parque não é uma reserva selvagem como querem fazer crer. O parque é habitado, mas eles, parece, querem que isto fique deserto», afirma, revoltado, Manuel Barreira, presidente da Junta de Freguesia do Soajo. Revoltado, porque vê-se impedido de arrecadar os ganhos que outras juntas de freguesia conseguem pela cedência de terrenos baldios para a instalação de aerogeradores. Exemplifica com o caso da Junta de Freguesia de Parada, que «terá rendimentos na ordem dos sessenta mil euros por ano» [tentámos durante dias confirmar esta informação, mas na Junta de Freguesia de Parada nunca atenderam o telefone].
Que valores naturais devem ser preservados no parque nacional que não devem ser preservados nos muitos parques naturais que temos? O que tem o Parque Peneda-Gerês, o único em Portugal com o estatuto de parque nacional, que os parques naturais não têm? De norte a sul do país, a presença dos aerogeradores nos pontos mais altos das serras já quase faz parte da paisagem, de tantos que são. O primeiro parque eólico em Portugal foi construído em 1986, na ilha de Porto Santo, na Madeira, e actualmente são 205, com 1983 aerogeradores na totalidade (dados de Maio de 2010 da Direcção-Geral de Energia e Geologia). Um aumento que se deve à pressão mundial para diminuir a dependência dos países produtores de petróleo e encontrar uma alternativa aos combustíveis fósseis. «Mais uma razão», alega José Carlos Pires, «para não proibir os parques eólicos no PNPG.»
Manuel Barreira não avança a quantia que irá perder, ou melhor, que não irá ganhar, mas sabe onde a aplicaria: «Por exemplo, na criação de emprego, reforçava a equipa de sapadores florestais e a equipa de limpeza de baldios, levava a rede de saneamento básico às habitações mais distantes, pavimentava caminhos e recuperava outros em mau estado, ajudava alguns idosos a pagar o lar, arranjava transporte para os doentes que para fazerem exames têm de se deslocar ao Hospital de Viana do Castelo, poderia fazer muita coisa com esse dinheiro.» Só na freguesia do Soajo, certifica Manuel Barreira, existem vários locais nos seis mil hectares de baldios geridos pela junta onde se poderia instalar aerogeradores. «Na Paradela, no alto da Pedrada, no Couto Velho, e mais uns quantos sítios muito ventosos. Em todos não, que não queremos ver as serras daqui cheias de ventoinhas.»

Dois mil euros por megawatt
Quem aqui vive trata a região como sua propriedade e não como de todos os portugueses, não obstante tratar-se de um parque nacional. A questão não é simples, tendo em conta que o parque tem três donos com interesses nada consensuais. Ao Estado pertence a menor fatia, apenas 7,4 por cento, 12 por cento é propriedade privada, e o restante é das compartes (populações que habitam no parque). São as assembleias de compartes que elegem os conselhos directivos, que por sua vez gerem os baldios. Donos à parte, o certo é que o arrendamento dos terrenos com potencial para exploração eólica poderia render-lhes muito dinheiro.
José Augusto Fernandes, o investidor com interesse no PNPG, calcula ganhos para os proprietários que rondam os «dois mil euros por megawatt». Uma propriedade com capacidade para instalar 30 MW, o que «não seria difícil encontrar aqui», somaria um rendimento extra de sessenta mil euros. Para as juntas de freguesia gestoras de baldios ? ou, em rigor, cujos presidentes integram os conselhos directivos ?, este montante não é despiciendo, já que muita obra está por fazer. Muitas habitações não têm sequer rede de saneamento básico nem água canalizada. É o caso de Germil, uma aldeia de montanha com 5,4 quilómetros quadrados, situada num dos cumes da serra Amarela e a poucos quilómetros de Ponte da Barca, a sede de concelho. Não terá mais do que setenta habitantes (Censos de 2001), embora o número de eleitores ronde os 118. O presidente da Junta de Germil, João Pereira, era menino quando foi criado o parque nacional, mas lembra-se das expectativas alicerçadas em promessas: «Ouvia-se falar em oportunidades, em novos empregos, que as pessoas já não iam precisar de melhorar a vida noutros países. A oportunidade surgiu, de facto. Sabe para quem? Para um cantoneiro. Só ele é que arranjou emprego. Fora isso, nunca se criaram condições para fixar ninguém aqui.» Difícil conceber que um problema tão grave como a desertificação, que afecta muitas regiões interiores do país, encontre solução num ou dois parques eólicos. «Claro que não, mas ajudava a junta de freguesia a angariar receitas para pavimentar as ruas de algumas aldeias, fazer o saneamento básico e instalar água canalizada.»  
Germil não é caso único. Na freguesia de Cabana Maior, as aldeias de Bostelinhos, Bouças Donas, Vilela de Lages, Boimo, Portela e Igreja também carecem de rede de saneamento básico. O que vale é que a maioria dos seus habitantes, «à volta de sessenta por cento», está imigrada nos Estados Unidos, França, Canadá, Alemanha, Suíça e Andorra. Manuel Branco, presidente da Junta de Cabana Maior, diz que «gastaria as receitas provenientes das eólicas no melhoramento dos acessos aos baldios». «Melhorava também», acrescenta, «os caminhos dentro do parque, porque a direcção do PNPG não tem feito nada.» Com a aposta do governo de José Sócrates nas energias de fontes renováveis, e tendo em conta a necessidade de alcançar metas para a redução de emissões de gases, Manuel Branco não entende a interdição à instalação de parques eólicos no PNPG: «Nasci no parque, vivo no parque, conheço-o como a palma das minhas mãos e sei que existe aqui muito potencial para tirar partido do vento.»
O empresário José Augusto Fernandes tem a mesma certeza e assegura que o interior do PNPG apresenta mais capacidade eólica do que os terrenos fora do parque, onde a exploração é permitida. E aponta alguns dos melhores locais: «Todo o planalto da serra do Soajo, os cumes da serra do Laboreiro, a serra da Peneda (excepto a faixa rochosa que vai do recuo da Barragem do Lindoso até um pouco acima de Anta), a serra Amarela e outros.»

«Não queremos destruir o que é nosso»
A tese defendida por ambientalistas de que os parques eólicos seriam uma fonte de destruição do parque é rejeitada pelo líder do Movimento Peneda-Gerês com Gente. «Não queremos isso. O parque é a nossa casa, não faria sentido estragá-lo.» José Carlos Pires conta uma história real contada de geração em geração na família: «No ano de 1900 a população local destruiu uma fábrica vidreira porque tinha receio de que a fábrica destruísse a floresta. As pessoas de agora têm o mesmo sentimento de protecção. Nós somos pelo parque, não somos contra, nada faríamos para o prejudicar.»
Convicção diferente apresenta Lagido Domingos, para quem a instalação de aerogeradores não significa apenas proveito económico e valorização energética. Significa também a destruição de ecossistemas relevantes, uma vez que obrigaria ao desbravamento de áreas para criar acessos aos próprios parques eólicos. «Não faz ideia do movimento de máquinas para montar aquelas estruturas, além de que é necessário proceder à manutenção regular das mesmas», o que implicaria um vaivém de gente e de transportes, indesejável numa área com «valores naturais únicos». É o caso do teixo, uma das mais raras e ameaçadas árvores da flora portuguesa, que no PNPG são mais de mil enquanto no resto do país não são mais do que cinquenta. O mesmo em relação ao carvalho e ao azevinho, que no parque são centenários, e à azereira. Em termos de fauna, Lagido Domingos lembra os esforços desenvolvidos pelos lados português e espanhol do parque para a reintrodução da cabra montês na área, desaparecida durante cem anos, entre 1900 e 2000. «Agora temos algumas centenas de exemplares, mas seria por pouco tempo a partir do momento em que se abrissem acessos. Mesmo à revelia das autoridades, há pessoas que fazem provas motorizadas, por exemplo nos acessos aos transmissores [antenas] instalados numa cumeada. Esses caminhos têm sido um pólo de conflitos. Imagine o que seria nos acessos aos parques eólicos.»
À riqueza natural descrita por Lagido Domingos, o fundador da FAPAS, Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens, acrescenta o sobreiro, a águia-real e o lobo. O sobreiro porque é centenário, a águia-real porque está extinta no parque e «há a possibilidade de reintroduzi-la» e o lobo porque existem apenas seis a oito alcateias. Miguel Dantas da Gama fez parte da comissão de acompanhamento da revisão do PO e congratula-se que a proposta enviada para apreciação à tutela contemple a proibição de instalar aerogeradores em toda a área do Parque Nacional da Peneda-Gerês. «Seria desastroso cometerem aqui os erros que estão à vista nas áreas envolventes, na serra do Barroso, na serra da Cabreira, em todas as serras do Alto Minho e nas de Montalegre».  
Os argumentos da direcção do PNPG, da equipa que elaborou a proposta de revisão e dos ambientalistas não são válidos para a população do parque nacional. «Convençam-nos de que os aerogeradores prejudicam este território. Se nos convencerem não protestamos mais», desafia José Carlos Pires. Diz-se que a união faz a força e esse parece ser o caso das gentes do Parque Nacional da Peneda-Gerês que, com razão ou sem ela, prometem «ir até ao fim» na luta pelo «direito ao desenvolvimento da região», nem que tenham de «recorrer aos tribunais».

Crescimento exponencial
Em Portugal, a produção total de energia a partir de renováveis cresceu 91 por cento em apenas cinco meses (de Janeiro a Maio de 2010), relativamente a igual período do ano passado, resultando num saldo de potência instalada de 9294 MW, dos quais 3780 MW são provenientes de fonte eólica (a hídrica ainda é, das fontes renováveis, a maior geradora de energia). Durante esse período, a energia proveniente do aproveitamento do vento cresceu cinquenta por cento. Desde a instalação do primeiro parque eólico em Portugal, em 1986, na ilha de Porto Santo, na Madeira, não pararam de surgir, como cogumelos, nas cumeadas de montanha. Actualmente existem 1983 aerogeradores distribuídos por 205 parques em todo o território continental, o que coloca o país numa posição cimeira, na Europa, em termos de capacidade de geração de base eólica (a Alemanha lidera a lista).
[Fonte: DGEG]

Há quem queira vê-las de perto

Na serra do Ralo, em Celorico da Beira, foi inaugurado há meses um trilho pedestre ao longo da zona de produção de energia eólica, instalada nas cumeadas. São 11 quilómetros de percurso, que as populações locais e gente de fora aproveitam para caminhadas ou simplesmente passear e apreciar a paisagem. Quem diria que as ventoinhas gigantes podiam constituir atracção turística? Tendo em conta a multidão que assistiu à cerimónia de inauguração no passado mês de Maio e o número de pessoas que aos fins-de-semana se deslocam até à serra do Ralo para percorrer o trilho, não há dúvida de que o potencial dos parques eólicos vai além da valorização energética de um recurso natural como o vento. A empresa proprietária deste parque eólico fala numa afluência de «mil visitantes desde o mês de Maio». Além do parque eólico da serra do Ralo, a GDF SUEZ explora mais três parques em Portugal, um nas Terras Altas de Fafe (nos concelhos de Fafe e Celorico de Basto), outro em Nave (abrange os concelhos de Vila Nova de Paiva, Castro Daire e Moimenta da Beira) e outro em Mourisca (em Castro Daire e Vila Nova de Paiva). Destes, só no de Fafe foi criado um percurso pedestre de 14 quilómetros, «também muito frequentado, com um número de visitantes ligeiramente superior ao do Ralo». Cada um dos trilhos está aberto a quem os quiser percorrer, a pé ou de bicicleta. E isto porque é objectivo da empresa «promover o pedestrianismo, o conhecimento sobre a energia eólica e as boas práticas ambientais, ao mesmo tempo que se aprecia a beleza natural envolvente».