Manifesto em defesa de obras públicas congrega 51 subscritores

Guerra de manifestos

Manifesto em defesa de obras públicas congrega 51 subscritores

publicado 18:03 27 Junho '09

O dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã é um dos subscritores do manifesto em defesa do investimento público José Sena Goulão, Lusa

 

 

Ao manifesto dos 28, publicado a 20 de Junho por um conjunto de economistas e antigos governantes, segue-se o manifesto dos 51. Desta feita, o elenco de signatários inclui personalidades como o dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, o gestor José Penedos ou o antigo secretário de Estado socialista José Reis. "Só com emprego se pode reconstruir economia" é a premissa que abre um texto carregado de apelos a uma inclinação à esquerda na linha de política económica.

"Para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados", lê-se no texto assinado pelos 51 académicos.

Os recursos públicos, propugnam os subscritores, "devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação".

Manifesto contra "atitude conservadora"

Na mira dos 51 subscritores está o conteúdo do manifesto que há uma semana surgia assinado por figuras como Daniel Bessa e Luís Campos e Cunha, antigos membros de executivos socialistas. Um documento que o economista Luís Nazaré afirma reflectir "opiniões conservadoras".

"Traduzem uma atitude conservadora e, do nosso ponto de vista, uma atitude demissionista relativamente àquilo que as gerações presentes devem sentir como responsabilidade para com as gerações futuras e para a construção de um Portugal melhor", sustentou Luís Nazaré à RTP. Para o economista, impõe-se assegurar "as infra-estruturas de que o país já carece há algum tempo".

Na esteira da publicação do manifesto de 28 economistas, Francisco Louçã havia assumido as despesas do ataque ao que disse ser um documento "sem uma palavra sobre a máfia financeira, os conselhos de administração que eles frequentavam com todo o deleite". O documento, afirmava há uma semana o dirigente bloquista, vinha ilustrar "uma espécie de Olimpo do Bloco Central, em que vão buscar uma série de ex-ministros todos eles de pouca fama".

Opinião semelhante foi ouvida ao secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, para quem o manifesto dos 28 economistas foi "mais do mesmo de gente que só quer salvar uma política de direita".

Reavaliação é posição "credível"

No campo oposto, a presidente do PSD colocou-se ao lado dos subscritores do manifesto divulgado a 20 de Junho. No mesmo dia, Manuela Ferreira Leite sublinhava que "não se encontra nenhum economista credível que subscreva uma posição contrária à reavaliação dos grandes investimento públicos.

"Não há nenhum economista, seja ele de que partido for, que não defenda aquilo que venho dizendo há mais de um ano", sustentava então a líder social-democrata.

Nos antípodas da via defendida pelo PSD de Manuela Ferreira Leite, os subscritores do novo manifesto rejeitam a ideia de que o investimento público dê lugar a um "fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras".

"Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica", frisa o documento.

Adiante os signatários afirmam: "A pretexto dos desquilíbrios externos da economia portuguesa, dizem-nos que devemos esperar que a retoma venha de fora através de um aumento da procura dirigida às exportações. Propõe-se assim uma atitude passiva que corre o risco de se generalizar entre os governos, prolongando o colapso em curso das relações económicas internacionais e mantendo em todo o caso a posição periférica da economia portuguesa".

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